domingo, 24 de julho de 2011

Agradecimento e Súplica


Por anos passei te procurando...
Você sempre ali na minha frente e eu não notava!
Mesmo antes de conhecer já te esperava!
Sei que ficou aguardando minha iniciativa,
pois queria saber quão intenso era meu desejo em te conhecer!

Então, quando eu passava por um momento de profunda tristeza,
solidão e confusão mental, te apresentou a mim.
Parecia-me tão familiar!

Lua se pondo: Altemir
Ouviu-me atentamente...
Por horas falei...
contei meu passado...
minha vida...
meus problemas...
minhas perspectivas..
desabafei...
chorei...

Passou a me dar conselhos...
Tuas palavras
consolaram-me...
confortaram-me...
Deram-me esperança...
Tranquilidade...
Sabedoria!

Inclinei meus ouvidos e passei a te escutar.
Entre as muitas coisas que aprendi contigo estão o Amor, Amizade, Bondade, Paz, Alegria.
Você é a Pessoa mais inteligente, sábia e justa que já conheci!

Passei a sorrir novamente.
A Verdadeira Felicidade, enfim, descobri o que realmente era!

Porém, os anos foram passando e meu amor e confiança em ti esfriaram!
Como pode ter acontecido?
Passei a não te procurar mais com frequência...
Isolei-me!

Quanto mal fiz a ti, e ainda, quanto isso me custou...
Afastei-me do que realmente me dava alegria...
Em fim, voltei ao mundo de solidão, escuridão mental, egoísmo.
Perdi a paz... Entrei em depressão profunda!
Como pude permitir isso?

E você novamente ali só me observando!
Sempre que podia me dava um toque para voltar.
Na sua benignidade me fez entender quanto te fiz sofrer!
Mais ainda... quanto dependo de ti.

Estou sofrendo muito, quase morrendo!
Reconheço quanto falhei e as conseqüências de meus atos!
Sei que é uma pessoa amorosa, bondosa, paciente, perdoadora, vagarosa em irar-se!
Realmente digna de toda Honra e Glória!

Como pude ter feito isso com a Pessoa mais importante da minha vida?!
Eis-me aqui! Dai-me deveras a vida novamente!
Sei que não sou merecedor...
contudo agradeço por me aceitar novamente e suplico:
Perdoa-me!!

sábado, 2 de julho de 2011

Homem não chora

Pois é, sou do tipo que não lê e-mail com mensagens melosas,
quebro todas as correntes que tentam me mandar,
sem paciência para arquivos pps e ppt,
e como diria uma amiga...
daqueles fortões, com a opinião que homem não chora!


Dia cinza, 02/07/2011: Altemir


Certo dia, numa semana cinza e chuvosa de julho de 2005,
num momento de ‘fragilidade emocional’, afinal ninguém é perfeito,
enquanto tentava distrair um pouco a mente,
afim de consolar-me pela partida prematura de meu velho,
resolvi ler alguns daqueles e-mails enviados à lixeira!


Ao começar a leitura do texto “A caderneta vermelha
algo estranho aconteceu comigo!


A cada linha, um aperto no peito,
sentimentos outrora apagados pelo tempo.
Uma olhada para o lado... ninguém olhando...
e a leitura continua!


Enquanto a leitura seguia a mente voltava no tempo
e o chamado ‘filme da vida’ passava!
Tanta coisa poderia ter sido diferente,
em fim, passado não se muda!


De repente um líquido estranho escorre pelo rosto!
O que é isso?
Lágrimas?!
Que sentimentos são esses?
Então comecei a chorar compulsivamente,
de uma maneira que jamais havia acontecido!
Foi a leitura mais lenta e triste da minha vida!
Ainda hoje quando leio esse texto os olhos me traem.

Minutos de reflexão:
Dor, saudade, arrependimento, frustração, impotência
e a esperança (João 5:28,29) em poder falar olhando
diretamente nos seus olhos após um longo abraço:
“TE AMO MEU PAI”!!!


Nova olhada para o lado, ninguém viu, que bom!!
Respirei fundo, sequei as lágrimas...


Afinal homem não chora!


Avelino Francisco de Oliveira: 20/04/1951 a 02/07/2005

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A caderneta vermelha

O carteiro estendeu o telegrama:


José Roberto não agradeceu e enquanto abria o envelope, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa. Uma expressão mais de surpresa do que de dor tomou-lhe conta do rosto.


Palavras breves e incisas: Seu pai faleceu. Enterro 18horas. Mamãe.


José Roberto continuou parado, olhando para o vazio.
Nenhuma lágrima lhe veio aos olhos, nenhum aperto no coração.
Nada!
Era como se houvesse morrido um estranho.
Por que nada sentia pela morte do velho?


Com um turbilhão de pensamentos confundindo-o,
avisou a esposa, tomou o ônibus e se foi,
vencendo os silenciosos quilômetros de estrada enquanto a cabeça girava a mil.


No íntimo, não queria ir ao funeral e,
se estava indo era apenas para que a mãe não ficasse mais amargurada.
Ela sabia que pai e filho não se davam bem.


A coisa havia chegado ao final no dia em que, depois de mais uma chuva de acusações,
José Roberto havia feito as malas e partido prometendo nunca mais botar os pés naquela casa.


Um emprego razoável, casamento, telefonemas à mãe pelo Natal, Ano Novo ou Páscoa...
Ele havia se desligado da família não pensava no pai e a última coisa que desejava na vida era ser parecido com ele.


O velório:
Poucas pessoas. 
A mãe está lá, pálida, gelada, chorosa.
Quando reviu o filho, as lágrimas correram silenciosas, foi um abraço de desesperado silêncio. 
Depois, ele viu o corpo sereno envolto por um lençol de rosas vermelho - como as que o pai gostava de cultivar.
José Roberto não verteu uma única lágrima, o coração não pedia. 
Era como estar diante de um desconhecido, um estranho, um...


O funeral:
O sabiá cantando, o sol se pondo e logo tudo terminou. 
José ficou em casa com a mãe até a noite, beijou-a e prometeu que voltaria trazendo netos e esposa para conhecê-la. 
Agora, ele poderia voltar à casa, porque aquele que não o amava, não estava mais lá para dar-lhe conselhos ácidos nem para criticá-lo.


Despedida:
Na hora da despedida a mãe colocou-lhe algo pequeno e retangular na mão
- Há mais tempo você poderia ter recebido isto - disse.
- Mas, infelizmente só depois que ele se foi eu encontrei entre os guardados mais importantes...
Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem,
meteu a mão no bolso e sentiu o presente.
O foco mortiço da luz do bagageiro, revelou uma pequena caderneta de capa vermelha. 
Abriu-a curioso.


Páginas amareladas:
Na primeira, no alto, reconheceu a caligrafia firme do pai:
Foto: Alice Elaine
Nasceu hoje o José Roberto.
Quase quatro quilos!
O meu primeiro filho, um garotão!
Estou orgulhoso de ser o pai daquele que será a minha continuação na Terra!”.
À medida que folheava, devorando cada anotação, sentia um aperto na boca do estomago, mistura de dor e perplexidade, pois as imagens do passado ressurgiram firmes e atrevidas como se acabassem de acontecer!
Hoje, meu filho foi para escola.
Está um homenzinho!
Quando eu o vi de uniforme, fiquei emocionado e desejei-lhe um futuro cheio de sabedoria.
A vida dele será diferente da minha, que não pude estudar por ter sido obrigado a ajudar meu pai.
Mas para meu filho desejo o melhor.
Não permitirei que a vida o castigue”.
Outra página:
Roberto me pediu uma bicicleta, meu salário não dá, mas ele merece porque é estudioso e esforçado.
Fiz um empréstimo que espero pagar com horas extras”.
José Roberto mordeu os lábios.
Lembrava-se da sua intolerância, das brigas feitas para ganhar a sonhada bicicleta.
Se todos os amigos ricos tinham uma, por que ele também não poderia ter a sua?
E quando, no dia do aniversário, a havia recebido,
tinha corrido aos braços da mãe sem sequer olhar para o pai.
Ora, o “velho” vivia mal-humorado, queixando-se do cansaço,
tinha os olhos sempre vermelhos...
e José Roberto detestava aqueles olhos injetados sem jamais haver suspeitado que eram de trabalhar até a meia-noite para pagar a bicicleta... !
Hoje fui obrigado a levantar a mão contra meu filho!
Preferia que ela tivesse sido cortada, mas fui preciso tentar chamá-lo á razão, José Roberto anda em más companhias, tem vergonha da pobreza dos pais, e se não disciplinar, amanhã será um marginal.
É duro para um pai castigar um filho e bem sei que ele poderá me odiar por isso; entretanto, devo educá-lo para seu próprio bem.
Foi assim que aprendi a ser um homem honrado e esse é o único modo que sei de ensiná-lo”.
José Roberto fechou os olhos e viu toda a cena quando por causa de uma bebedeira,
tinha ido para a cadeia.
Naquela noite, se o pai não tivesse aparecido para impedi-lo de ir ao baile com os amigos...
Lembrava-se apenas do automóvel retorcido e manchado de sangue que tinha batido contra uma árvore... Parecia ouvir sinos, o choro da cidade inteira enquanto quatro caixões seguiam lugubremente para o cemitério.


As páginas se sucediam com ora curtas, ora longas anotações,
cheias das respostas que revelam o quanto, em silêncio e amargura, o pai o havia amado.


O “velho” escrevia de madrugada.


Momento da solidão, num grito de silêncio, porque era desse jeito que ele era,
ninguém o havia ensinado a chorar e a dividir suas dores,
o mundo esperava que fosse durão para que não o julgassem nem fraco e nem covarde.


E, no entanto, agora José Roberto estava tendo a prova que,
debaixo daquela fachada de fortaleza havia um coração tão terno e cheio de amor.


A última página. Aquela do dia em que ele havia partido:
Deus, o que fiz de errado para meu filho me odiar tanto? 
Por que sou considerado culpado, se nada fiz, senão tentar transformá-lo em um homem de bem?
Meu Deus, não permita que esta injustiça me atormente para sempre.
Que um dia ele possa me compreender e perdoar por eu não ter sabido ser o pai que ele merecia ter.
Depois não havia mais anotações e as folhas em branco davam a ideia de que o pai tinha morrido naquele momento.


Noite fria e úmida, 01/07/2011: Altemir




Reflexão:
José Roberto fechou depressa a caderneta, o peito doía.
O coração parecia haver crescido tanto, que lutava para escapar pela boca.
Nem viu o ônibus entrar na rodoviária,
levantou aflito e saiu quase correndo porque precisava de ar puro para respirar!


A aurora rompia no céu e mais um dia começava.
Honre seu pai para que os dias de sua velhice sejam tranquilos!” (Efésios 6:2,3)
- certa vez ele tinha ouvido essa frase e jamais havia refletido na profundidade que ela continha.
Em sua egocêntrica cegueira de adolescente,
jamais havia parado para pensar em verdades mais profundas.


Para ele, os pais eram descartáveis e sem valor como as embalagens que são atiradas ao lixo.
Afinal, naqueles dias de pouca reflexão tudo era juventude,
saúde, beleza, música, cor, alegria, despreocupação, vaidade.


Não era ele um semideus?


Agora, porém, o tempo o havia envelhecido,
fatigado e também tornado pai aquele falso herói.


De repente:
No jogo da vida, ele era o pai e seus atuais contestadores.
Como não havia pensado nisso antes?


Certamente por não ter tempo, pois andava muito ocupado com os negócios,
a luta pela sobrevivência, a sede de passar fins de semana longe da cidade grande,
a vontade de mergulhar no silêncio sem precisar dialogar com os filhos.


Ele jamais tivera a ideia de comprar uma cadernetinha de capa vermelha
pala anotar uma a frase sobre seus herdeiros,
jamais lhe havia passado pela cabeça escrever que tinha orgulho
daqueles que continuam o seu nome.
Justamente ele, que se considerava o mais completo pai da Terra?


Uma onda de vergonha quase o prostrou por terra numa derradeira lição de humildade.
Quis gritar,
erguer procurando agarrar o velho para sacudi-lo e abraçá-lo,
encontrou apenas o vazio.


Havia uma raquítica rosa vermelha num galho no jardim de uma casa,
o sol acabava de nascer.
Então, José Roberto acariciou as pétalas
e lembrou-se da mãozona do pai podando,
adubando e cuidando com amor.
Por que nunca tinha percebido tudo aquilo antes?


Uma lágrima brotou como o orvalho,
e erguendo os olhos para o céu dourado,
de repente, sorriu e
desabafou-se numa confissão aliviadora:


Se Deus me mandasse escolher, eu juro que não queria ter tido outro pai que não fosse você velho! Obrigado por tanto amor, e me perdoe por haver sido tão cego.”


(Fonte: Luiz Carlos Moratelli)